Campos já há algum tempo, comemora o Carnaval fora de época - o Campos Folia, teve sua edição de 2012 realizada no Centro de Eventos Populares Osório Peixoto, o Cepop, inaugurado em março. Após a festa é hora do balanço da festa que recebe o estímulo para ser profissionalizada, e também da nova estrutura.
O Campos Folia 2012, sob o ponto de vista do secretário de Cultura, Orávio Soares, foi um sucesso. Para Orávio, as sociedades carnavalescas apresentaram um Carnaval digno de grandes centros produtores de cultura popular e os visitantes de grandes escolas de samba foram unânimes em elogios ao Cepop.
— Recebemos elogios de Carlinhos de Jesus, além de personalidades de São João da Barra, Quissamã, Macaé, Conceição de Macabu, Carapebus, São Francisco de Itabapoana, São Fidélis e até de Aperibé. Isso para não falar da capital. Tivemos a visita de Milton Cunha e de Maria Augusta Rodrigues (grande pesquisadora, filha de Ana Augusta Rodrigues, a mulher nortista que nos ensinou a valorizar a nossa cultura papa-goiaba)”, disse Orávio.
Sobre especificamente melhorias do Carnaval de Campos, o secretário de Cultura comentou que a festa melhorou de forma considerável. “Os nossos artistas são muito talentosos e criativos. Se fossem mais organizados seriam imbatíveis e, assim, poderíamos recuperar mais rapidamente o nosso prestígio abalado ao longo dos últimos 20 anos. Perdemos para outras cidades e, principalmente, para a tradição carnavalesca de São João da Barra”, relatou.
Falando de profissionalismo e amadorismo. a ordem agora é profissionalizar. “Temos como recuperar o tempo perdido e, através de um profissionalismo cartesiano, podemos ser o exemplo de como os produtores culturais poderão ganhar dinheiro com essa grande ópera popular, em que estão presentes elementos de diferentes profissionalidades, incluindo a teatralidade, a escultura, a música, a dança, isso sem falar no artesanato, a moda, o estilo. Tantas coisas circulam em torno do carnaval. Penso que tem um veio a explorar e colocar a cultura dentro do plano da sustentabilidade. Nota mil para os blocos e escola. Temos insistido para que os reacionários se curvem à realidade dos novos tempos”, explicou o secretário.
Para que os carnavalescos tenham acesso à informações atuais sobre a festa de confetes e serpentinas, a secretaria de Cultura pretende desenvolver o planejamento de um curso. “Agora, findo o carnaval, vamos planejar um curso para que todos os carnavalescos possam ter acesso a informações atualizadas sobre a estética do carnaval, o uso de diferentes materiais na confecção de fantasias e alegorias, metodologias da formação de novas baterias, mestre sala e porta-bandeira”, comentou o secretário.
Segundo Orávio, o Cepop é uma realidade e somente poderá ser julgado pela posteridade, pois é um empreendimento projetado no futuro.
Inserido no ramo do Carnaval desde 1989, o pesquisador de cultura popular Marcelo Sampaio expressou seu ponto de vista sobre o Campos Folia 2012. Para Marcelo, é uma questão delicada a realização da festa em tempo diverso do Carnaval nacional. Essa mudança na data, segundo o pesquisador, dá oportunidade para que itens de Carnavais de outras cidades estejam presentes na festa de Campos.
— Acho que Campos está passando por um problema: a mudança na data do Carnaval. Assim, você comete um crime antropológico, pois o Carnaval segue o calendário cristão. Quando se desloca [o Carnaval] para após a Quaresma, você tira do Carnaval o seu sentido existencial — explicou — No final de abril há condições de importar carros, esculturas, fantasias e mestres-sala e portas-bandeira de outros municípios. Vamos perdendo a identidade cultural. Quando você importa do Rio ou de São João da Barra, visualmente o Carnaval fica mais bonito. Mas, vai ver se isso foi feito em Campos, por nossos marceneiros ou costureiras. É um desfile requentado, na minha opinião. — completou.
O pesquisador também comentou que considera o Cepop detentor de uma pista excelente, uma boa iluminação e um som de qualidade. Mas, ele disse, para o Carnaval falta um barracão para as agremiações e melhores bastidores no Cepop. “A concentração foi a mesma bagunça de antes, com os carros se concentrando na Alberto Lamego. Não tem um espaço confortável para as agremiações se organizarem. O trânsito na BR-356 fica confuso. Imagina um evento com movimento intenso para as praias. Vai ser loucura”, afirmou.
Marcelo sugere que os carnavalescos façam reunião, sem a participação do poder público, para a criação de novo modelo de Carnaval para 2013. “Acho que a gente tem que alertar os carnavalescos para uma grande reunião, sem o poder público, para apararmos as arestas e tentarmos um modelo novo para 2013”.
O presidente da escola de samba Ururau da Lapa, Jaime Nolasco, visualiza a organização do Carnaval deste ano como muito melhor que a organização das folias anteriores. “Agora tem espaço para desfilar com carros maiores. Pela primeira vez, o Carnaval teve saldo positivo. Que ano que vem seja melhor! Estamos muito felizes. Espero que as pessoas boas do Carnaval – que são muitas – se reúnam para ver o que é melhor para o Carnaval de 2013”, sugere, assim como Marcelo, uma reunião.
O bloco que ficou em primeiro lugar, Os Psicodélicos, tem na presidência de sua Junta Administrativa Rubens Santos. Para Rubens a organização deixou a desejar. “Enviamos uma documentação para a Prefeitura e ganhamos nota sete em samba-enredo porque alegaram que o documento não foi enviado. Só teve esse problema, que não pode acontecer”, pontuou Rubens, completando que é real a necessidade da construção de galpões. “Temos uma passarela de 12 metros de largura mas não temos um galpão”, concluiu.
Agremiações pedem barracões para 2013
A organização do Campos Folia 2012 foi considerada boa sob o ponto de vista do presidente da escola de samba Mocidade Louca, Jorge França. que ficou em segundo lugar na classificação geral. “Com certeza, a organização ficou 100%. Foi como se a gente estivesse desfilando no Rio de Janeiro. Tudo de primeira linha”, comentou Jorge, citando, no entanto, uma questão desagradável neste Carnaval: o roubo de itens que compuseram o desfile da Mocidade, após o término do Campos Folia. Tanto os episódios de roubos quanto a destruição causada pela chuva tiveram como motivo o posicionamento das alegorias em um terreno próximo ao Cepop. “A única coisa que eu achei um absurdo foi o fato de as alegorias saírem do Cepop e caírem num brejo. Tivemos prejuízo de mais de R$ 15 mil reais. Houve furto nas carretas, furto de gerador, bateria, iluminação. Até as rodas do carro abre-alas tentaram arrancar “, conta Jorge.
Interrogado sobre a existência de registro de ocorrência, Jorge comentou: “A gente não registrou nada porque não temos provas. Agora é a escola arcar com prejuízos e pedir para que no próximo ano não aconteça mais isso. Espero que comece a ser construído um barracão para as escolas, porque a gente começa o Carnaval usando as madeiras, as armações, mas como choveu, as madeiras incharam, não tem como aproveitar. Está chovendo e no terreno, onde estão as alegorias é lama pura”, disse.
Apesar dessa questão, a Mocidade Louca visualiza como muito bom o Campos Folia 2012.
O Campos Folia 2012, no geral, teve um saldo positivo sob os olhos das agremiações e das pessoas que foram ao Cepop para assistirem aos desfiles. No entanto, uma das escolas de samba, a Madureira do Turfe, apresenta uma reivindicação a respeito das notas dadas pela Comissão Julgadora e aguarda uma resposta – agendada hoje pela organização do Carnaval sobre a suposta injustiça cometida contra a escola. Durante a apuração dos resultados foi alegado que a sinopse da Madureira – onde consta samba e outros itens – não foi entregue aos julgadores do desfile. No entanto, a Madureira afirma que a sinopse foi repassada ao setor competente e diz que pretende até passar a agremiação para outro grupo, finalizando as atividades na comunidade , caso a suposta injustiça não seja reconhecida. Sobre a existência de roubos de itens das alegorias da Madureira, no terreno próximo ao Cepop, um dos presidentes da escola, Marcos Peixoto. informou que ocorreu. De acordo com ele, foram roubados: um gerador, uma máquina de fumaça e panos que cobrem os carros - itens cujo custo é calculado, pela escola, em R$ 3 mil. A Madureira pretende registrar o roubo. “Um dos diretores disse que ia fazer o registro do roubo”, afirmou Marcos.
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